segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

"Vamos se ligar" no Inverno 2009 do SBT?

Caros leitores,

o assunto é a frase do título entre aspas. Ouvi a dita cuja numa das chamadas para esse programa do SBT, na qual o apresentador conclama os telespectadores a, suponho, junto com ele, "se ligar" no programa.

O único problema foi a frase "Vamos se ligar".

Para quem não sabe, o pronome pessoal oblíquo átono se é de terceira pessoa.

Assim, quando dizemos "Vamos..." a alguém, está subentendido que o sujeito desse verbo é nós, obviamente:

Eu vou

Tu vais

Ele /ela vai

Nós vamos

Vós ides

Eles/elas vão

Desta feita, a frase em questão não existe gramaticalmente. Ou é vamos nos ligar em alguma coisa, ou eles / elas vão se ligar, ele / ela vai se ligar, ou você vai se ligar e vocês vão se ligar (você é uma forma de segunda pessoa que leva o verbo para a terceira pessoa, daí ser possível o uso do reflexivo se, como enfatizei no artigo).

Em suma, como o próprio Supremo Tribunal Federal decidiu que não há necessidade de diploma de jornalismo para o exercício da profissão, essa chamada do SBT deve ter sido para divulgar alguma campanha de analfabetismo nestes tristes trópicos!

Como fica agora quem trabalhou duro durante anos para conseguir um diploma de jornalista? Esses vão simplesmente rasgar o diploma, já que ele não é mais necessário.

E quem pretende ser jornalista não precisa mais se dar ao trabalho de passar em vestibular ou gastar fosfato nas cadeiras frias das faculdades.

Afinal de contas, não é nem necessário saber a própria língua para exercer essa profissão!

A vanguarda do atraso continua operando em nosso país, pra não dizer como se diz na gíria, "operando nosso país"! E olha que não sou jornalista, sou professor de profissão. E não preciso de diploma pra ser poeta e escritor.

Mas, pelo andar da carruagem, qual vai ser o próximo passo? Desregulamentar a profissão de professor? Já vou me preparando para rasgar o meu diploma (ou os meus) também, e olha que eu tenho uma pilha deles: graduação, mestrado, doutorado...

Depois é voltar pras cavernas, ou pras matas, e resolver tudo no tacape! Não será necessário o uso da língua.

Quanto ao "vamos se ligar", como diz o Índio ao Cavaleiro Solitário, quando este olha as colinas ao redor, vê uma fileira interminável de índios e diz:

"Meu Deus, nós estamos cercados"!

- Nós ... quem, cara-pálida? :)

***

Falando em coisas esdrúxulas: no Brasil, o Cavaleiro Solitário (The Lone Ranger) foi apresentando como Zorro, pelo fato de também usar máscara.

E seu companheiro índio, Tonto, um valoroso guerreiro, teve seu nome original mantido, criando essa confusão semântica.

Agora, a piada da piada: se o Cavaleiro era solitário, como é que ele tinha um parceiro? Coisa de esquizofrênico, como acabou sendo o próprio Zorro, por haver dois personagens denominados Zorro. Afinal, ele devia se perguntar, quem era o verdadeiro Zorro, ele ou o outro?

3 comentários:

  1. Romeu Agostinho Santomauro1 de dezembro de 2010 às 11:01

    Caro Professor:
    Mais uma vez, quero cumprimentá-lo pelo magnífico trabalho que vem realizando em prol da dignidade do ensino da Língua Portuguesa.
    Concordpo plenamente com o artigpo supra!
    Há tempos que venho batalhando nessa seara, procurando mostrar a imbecilidade que grassa em nossos meios de comunicação.
    Todos sabemos que a dignidade de um povo desaparece, quando "serrupiam"-lhe a Língua!. Faça desaparecer a Língua e desaparecerá a Nação! (Já dizia um velho mestre). Os romanos sabiam muito bem disso e foram mestres em aplicar tal lição. Hoje, são os americanos; amanhã, serão... os chineses! ou...!
    Fico feliz em saber que não estou sozinho! (Nem ficando louco!)
    PARABÉNS! Agora, também por sua coragem, MESTRE!

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  2. Romeu Agostinho Santomauro1 de dezembro de 2010 às 11:09

    PARABÉNS! Agora, também por sua coragem,MESTRE!
    Brilhante seu artigo! Já o recomendei a todos os meus alunos!
    Fraterno Abraço!
    do Romeu

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  3. Olá Romeu,
    estou duplamente grato pelo pelos elogios, comentários e incentivo!
    Obrigado e abraço!
    Continuarei neste trabalho pela melhoria do ensino de nossa Língua Materna,
    afinal de contas, ela também é nossa Mãe!
    E eu me tornei professor pelo incentivo da minha.
    É justo!

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