quinta-feira, 24 de maio de 2018

Pode-se brincar com o lúdico?

Vi esta chamada para um artigo no UOL e fiquei me perguntando: pode-se realmente brincar com o lúdico?

É claro que a minha pergunta se refere à redundância, já que brincar é divertir-se, fazer brincadeiras, recrear. E lúdico significa o que é típico das brincadeiras, do que é recreativo.

Por isso, 'brincar com o lúdico' é como dizer que você vai 'jogar jogos'.

Se vamos jogar, está implícito que iremos brincar utilizando jogos, e a menos que usemos um objeto específico ou mencionemos um esporte em particular, como jogar bola, dados, cartas, ou jogar basquete, futebol, video-game, etc, não precisaremos repetir o mesmo termo na frase.

Assim, “brincar com o lúdico” é repetição excessiva de informações.

É como dizer: voar no ar, nadar na água, comer com a boca, beijar com os lábios, e os já consagrados 'subir pra cima' e 'descer pra baixo'.

Ufa!

E hoje ainda é 06 de janeiro.

Desejem-me sorte, por favor, pois às vezes ler é mais difícil que escrever.

***

Observação: e eu quase deixei passar "o aniversário ... brincou com o clima lúdico" no tal artigo!

Desde quando aniversário brinca? Aniversário virou sujeito animado agora? Não havia pessoas fazendo isso?

Pausa para reflexão:

não faço essa crítica por mera falta de paciência. Após muitos anos estudando e escrevendo sobre português e lecionando inglês, noto que há uma lacuna em nosso idioma no que toca o ensino da voz ativa e passiva, o que não falta no inglês.

É preciso ensinar aos nossos patrícios, e por isso o faço aqui, que quando nos referimos a uma ação, é necessário ter em mente o agente dela, que será o sujeito da oração que a descreve, e que será o agente da passiva quando essa oração estiver nessa forma.

Portanto, não é tão simples tornar seres ou atos inanimados em animados, pois quando eles se tornam agentes da passiva, a frase pode se transformar numa coisa sem pé nem cabeça.

Que tal: "o clima lúdico foi brincado pelo aniversário"?

No aprendizado da língua inglesa, aprender a pensar sobre o sujeito da oração, o praticante da ação, é fundamental, para que coisas que não tem vida própria não pratiquem atos irreais. Vamos deixar essas coisas para a imaginação dos escritores, que tem criatividade bastante para inventar esse tipo de ficção.

O afã de enfeitar demais um texto pode acabar provocando o efeito oposto.

Como diz o ditado, 'cada um na sua', 'cada macaco no seu galho', etc.

2 comentários:

  1. Adorei o post, parabéns você escreve muito bem!
    Favoritei seu blog no meu!
    Beijos.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado, Camila!
    Que você realize todos os seus sonhos!
    Abraço.

    ResponderExcluir

Verbos Transitivos Diretos

Verbos transitivos diretos são verbos que indicam que o sujeito pratica a ação descrita, que é sofrida por outro elemento, denominado objeto...