A questão é que a matéria discorre sobre um relatório da ONU sobre a desigualdade social da América Latina, ou seja, a falta de igualdade na distribuição da renda para a população.
Do início ao fim, o texto fala sobre o assunto da desigualdade ou falta de equidade mostrada pelo índice de distribuição de renda, que classifica os países por esse aspecto.
O problema aparece -- na minha humilde opinião, é claro--, quando é apresentada a seguinte frase:
O Brasil avançou, porém, se comparado a 1990, quando detinha o título de país com maior nível de iniquidade da América Latina.
Iniquidade, segundo o iDicionário Aulete, tem as seguintes acepções (significados):
1. Qualidade do que é iníquo. 2. Falta de equidade.3. Ação ou coisa iníqua.4. Grave injustiça.5. Pecado, culpa, crime.6. Maldade, perversidade.
Em suma, o sentido geral do termo puxa mais para algo maior do que uma simples desigualdade, pois iníquo quer dizer gravemente injusto, mau, perverso.
Que o Brasil social e economicamente falando seja injusto, com certeza é, mas não acredito que a ideia colocada no relatório implique uma maldade que chegue a crime.
Inclusive porque igualdade é sinônimo de equidade, mas desigualdade não é sinônimo de iniquidade.
Basta ver a lista acima dada pelo Aulete, em que aparece a falta de equidade, mas não a palavra desigualdade.
Posso estar redondamente enganado quanto ao uso da palavra, e o autor realmente esteja falando da perversidade da economia brasileira, que explora a classe trabalhadora de tal forma que chegue ao nível da maldade. Nisso eu não discordaria dele.
E pediria desculpas por minhas observações, sem problemas, se isso me fosse mostrado.
E até tentei ler o relatório no original para ver se é isso mesmo que é dito nele, mas não consegui, porque o arquivo apresentou defeito ao ser baixado e fiquei impedido de abri-lo.
Assim, se algum leitor conseguir isso, agradeceria a confirmação ou não do uso da palavra discutida aqui nesse texto.
Na verdade, escrevo tudo isso porque minha memória da palavra iniquidade tende para o contexto da maldade, da perversidade (veja esta coluna sobre vocabulário e esta outra sobre palavras esdrúxulas no Curso Gratuito de Português; gosto de escrever sobre português nesse estilo).
Por isso imaginei que simplesmente usar desigualdade na frase seria mais adequado, dentro do contexto do assunto tratado.
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Isto posto, faço uma observação gramatical: o artigo da Folha apresenta uma pequena falha no final, que é um verbo no singular, quando o sujeito pede plural:
... enquanto as megacidades (mais de 5 milhões) fica com 14%...
Pra mim, o problema não é cometer um erro ao escrever (mesmo de digitação, como parece ser o caso acima), isso é normal, o que não é normal é deixar o erro sem correção. Infelizmente, vejo isso com mais frequência do que gostaria nos portais de notícias.
Não tenho nada contra ninguém individualmente, pois vejo que a falta de correção se tornou uma coisa corriqueira, comum, e muita gente nem presta mais atenção nisso.
No entanto, como professor de línguas, não consigo fingir que não me bateu o famoso sentimento de vergonha alheia.
Por essa razão tomo cuidado quando escrevo. Além de ter uma característica apropriada para esta prática: não tenho preguiça de revisar, refazer ou corrigir textos, muito pelo contrário.
Nem de pedir aos leitores que apontem meus erros.
Prezado, gostei muito dos artigos. Qual seria sua dica, pra um bom curso "on line" de língua portuguesa, preciso muito de ajuda neste sentido.
ResponderExcluirAgradeço desde já.
Att.
Claudio Marcelo Pires
Não entendi tua pergunta. Que tipo de curso precisas? Com exercícios e acompanhamento de professor?
ResponderExcluirAqui só recomendo o do Cursos 24 Horas, que está nas páginas fixas do blog.